terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os últimos acenos

30/12/2009 - depois do último aceno, precisava seguir meu périplo(*). Copacabana era onde trabalhava nos últimos anos. Na mesma praça onde um dia meu pai começou uma história, onde de calças curtas era levado por ele ao seu trabalho, onde basicamente eu cometia estripulias, mas também tinha os primeiros contatos com este mundo, eu estava encerrando ali este meu ciclo. Uma grande coincidência, ou como dizia Milton Nascimento e Fernando Brant, "chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também despedida”.

Fiz um giro pelo Administrativo e pelas outras áreas. Abri tantas portas, acho que todas elas, olhei pras pessoas, acenos de cá e de lá. Fui dar uma olhada na técnica. Entre outras, eu queria ver a lourinha trabalhando. Ela é motivo de um grande orgulho: um dia ela era a "office-girl" do hospital que trabalhava, tinha vindo da roça, nem sabia o que queria da vida e hoje após uns empurrõeszinhos e muita garra dela, brilhava por aquele terreiro. Não a encontrei.

O Administrativo fica em um grande salão, asséptico, sem alma e montado com os mais eficientes materiais para reverberação de sons, que nos permitiam ouvir os mais variados ruidos, de interesse restrito aos alheios, dos 4 cantos, catalogar os tons disponíveis dos celulares Nokia, perceber a capacidade de insistência de uma criatura que tenta falar com um mesmo ramal em 12 chamadas consecutivas com 18 toques em cada uma e participar das conversas de todos, em particular das exibicionistas. O resto do andar não era muito diferente em termos de personalidade. Não nutria simpatia por aqueles espaços, mas do contrário, por varios dos seus ocupantes.

No hall da empresa esperei o elevador pra ir embora. Que demora! Que bicho moroso! Fui derrubado pela emoção, uma vez mais, como tantas me que aconteceram nestes últimos meses. Fui resgatado por aquela e mais uma lourinha, que chegavam da rua. Esta segunda, de tempo bem menor de convivência, mas uma referência médica, alguem que gosto muito. Pelos braços delas embarquei no bicho moroso. Que sorte que por estes braços! Delas foram os últimos acenos!



(*) Périplo: viagem em que se retorna ao ponto de origem (Wikipédia)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Queira morar perto do trabalho. Mas não exagere - Parte 2 - A mutação


Dando continuação a série, certa ocasião um amigo da família, considerado maluco, mas um maluco do bem, me procurou no laboratório. Ele estava convicto de que teria sido testemunha ocular de um fenômeno da evolução das espécies, enquanto observava uma formiga, que de repente alçara vôo. Sua curiosidade científica o fez capturar o inseto e levá-lo para o laboratório do amigo, para que no microscópio fosse dado um veredito. Ouviu da atendente: infelizmente o Dr.Luiz acabou de sair, mas ele mora nesta casa aqui ao lado. Pra quem vinha de longe, eram só mais 15 passos para me entregar o bicho e assim foi feito. Enfurecido, porém sem poder tratar mal o amigo, que embora sabidamente maluco, como disse era do bem, recebi o inseto.
Voltei ao laboratório para saber quem havia me feito a gentileza do encaminhamento do cliente.
No fim tudo bem, expliquei para o amigo que não tínhamos especialista habilitado para fazer a identificação. Restou-me somente um frasco com um inseto dentro. Fiquei sem saber se alado ou não.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Pequeno dicionário de vocabulário feminino - introdução


Experimente ir a um casamento num Sábado e no dia seguinte vá ao almoço com a família.

É natural que o evento da véspera surja na pauta das conversas, particularmente entre as presentes do sexo feminino. Quem era a noiva, se era ou pelo menos estava bonita, onde tinha sido a festa, se os salgadinhos (*) estavam bons, qual a igreja, e..., é claro, o principal: como era o vestido da noiva, e de quebra das mães e das 8 madrinhas de cada lado, com descrição de sapatos, cores, adereços, tamanhos de decotes (frontais e posteriores), penteados, etc...

Mesmo antes de tomar espumante da festa, eu geralmente só consigo me lembrar que o vestido era claro, que a noiva não tinha muita coisa na cabeça, e se tinha alguém de preto no altar. Aprendi que isto não deve acontecer, mas acho que há controvérsias. Ah..., acho não tem problema se algum homem esteja de preto, desde que este não seja o padre.

Mas a capacidade de visão a distância, memória e processamento femininas, é absolutamente impressionante! Não há equivalência na área tecnológica, seja em hertz, pixels ou terabytes. etc... Isto há de ser explicado pela ciência! Elas sabem descrever com detalhes tudo o que existia sobre os corpos femininos que estavam no altar, muitas vezes distante. Neste momento do almoço temos a sensação de que um novo dialeto começou a ser falado. Lembra o nosso português, mas achamos que não é. Há uma riqueza estonteante de vocabulário para descrever cada peça do vestuário, adereço, formatos, texturas, cores, etc... Mais a frente daremos alguns exemplos que suportam esta nossa análise. Abstraia neste momento do encontro dominical, é divertido tentar advinhar o que pode significar cada uma daquelas palavras.

Notas:
* termo obsoleto ainda praticado pelos mais velhos, mas não mais aplicável aos cardápios das festas atuais, face a distância conceitual que separa um do outro. "Salgad"- não mais aplicável quer por orientação dos cardiologistas quer pela tendência da culinária fusion. "inho"- seria um termo XXL para descrever os portes atuais das petiscos que circulam pelos eventos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Queira morar perto do trabalho. Mas não exagere !

Morar perto do trabalho (mas não do lado, por favor!), economiza tempo, guarda-chuvas (breve falaremos mais sobre este curioso item), sapatos, onerosos minutos de vigília, estacionamento, emissão de gases poluentes, o nosso ouvido de alguns assuntos prediletos dos motoristas de taxi, etc...

Morar ao lado (do lado mesmo, em casas com paredes geminadas), tem vantagens e desvantagens. Confesso que há tempos esqueci as primeiras. Não sei qual o distúrbio que sofro que só me faz lembrar das últimas: perda de memória ou recuperação de lucidez.

Muitas vezes tive a sensação de que ao encerrar a jornada diária, ia dar uma dormidinha num setor da empresa ali pertinho da minha sala. Do contrário sempre tive o receio de num dia de esgotamento e/ou ressaca somadas a uma eventual contribuição diazepínica, fosse parar na minha sala (a de trabalho), de pijama. O que pensariam de mim funcionários e clientes? "Dona Fulana (a gerente), o Dr. Luiz não anda bem, acho que precisa de uns dias de férias."Ou então: "Dr. R. , aquele médico seu amigo, do laboratório onde o senhor pediu que fizesse os seus exames, é meio maluco." Felizmente isto não chegou a acontecer, embora segundo comentários jocosos de uma colabora próxima, naquelas vezes em que fui chamado as pressas no início da jornada para uma intervenção emergencial (sistemas, falta de pessoal, de carro, etc...), a roupa estava razoável, mas a minha cara não disfarçava o que estava fazendo até 4 minutos (isso mesmo 240 segundos) atrás.

Os passos das pessoas subindo as escadas para ir tomar café cedo pela manhã, me avisavam que o laboratório estava abrindo. Funcionavam como uma espécie de despertador: acorda PF, a PJ já está abrindo as portas! Os passos que ouvia fora dos horários convencionais me despertavam a pergunta sobre quem estaria por lá aquela hora, na convicção de que não seriam dos fantasmas que alguns afirmavam já terem ouvido (acho que todo casarão centenário desperta estas fantasias em muitos). O barulho de furadeira ou de marteladas aos domingos, me chamavam a atenção de que havia uma obra. E martelando eu continuava: que obra é essa?

Quando me permitia dormir um pouco mais (num sábado por exemplo), as vezes era acordado pela estridente campainha da nossa porta. Pela janela com sono, ouvia a pergunta se ali era o laboratório. Com uma certa impaciência eu respondia, tendo que manter a educação naturalmente, que o laboratório ficava ao lado, onde havia um letreiro grande escrito: "Laboratório". Simples assim! Isso quando se não fosse muito ágil no movimento de entrada em casa, tinha a companhia de um cliente, que apressado já estava no hall de casa querendo entregar uma amostra. Mais um caso típica daqueles de PF misturada a PJ. Viram o doutor entrar em um lugar, só poderia ser no laboratório. Agoram vejam que situação, eu dentro da minha casa, tendo quase que exigir respeito, que não tentassem me entregar aquele potinho de jeito algum, que naquele local eu não era dado a estas coisas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"The inauguration"




Já estive em inauguração de laboratório, de livraria, em noite de autógrafo (não deixa de ser uma inauguração), de apartamento de amigo, etc... Falta quebrar uma garrafa de champagne em casco de navio. Mas acho que não terei a oportunidade de fazer isto, nem mesmo de um bote salva-vidas...

Esta semana fui assistir a "Inauguration" de um presidente da república. Sim esta foi a palavra que mais ouvi ao longo das últimas semanas: "The inauguration of Obama". Assim que eles chamam este tipo de evento. Não deixa de fazer sentido, mas nos soa curioso.

Tudo em um clima de "Copa", mas do Football deles, naturamente. Em 94 assisti em New Orleans, a final da nossa Copa. Aquela com Romário nos salvando em todos os jogos, Taffarel nos salvando na final e Roberto Baggio nos dando uma pela mãozinha (na verdade um pezinho bem torto. Me senti um ET andando pelas ruas, um ET amarelinho, de cerveja e pela camisa canarinho. Incrível, o maior evento esportivo que existe (na visão por várias óticas), era um acontecimento ignorado no país onde estava sendo realizado. Era uma copa diferente também, pelo fim nos pênaltis e pela sensação diferemos que tivemos no final daquela jornada sofrida, o que credito ao nosso técnico, muito mais de alívio do que de alegria.

Mas retornando ao evento mais recente, vimos pessoas combinando de ou se encontrando num bar, na manhã de um dia de semana comum, para tomar cerveja, comer uns appettizers e assistir em telões espalhados por todos os lados, aquele momento histórico. Há de se reconhecer sua importância, algo impensável há tempos (pouco tempo) atrás: um presidente negro e de sobrenome de origem árabe. Há de se torcer pelo seu sucesso. Toast!!

A day in the life - Boston, Cambridge

19/1/2009 - Neva, chove e venta muito lá fora. E faz um fresquinho também: no momento -11 C com sensação térmica de -18 C. Mas já me avisaram que amanhã vai ser bem pior, começando o dia com sensação de -24C.

A luz do sol começa a dar sinal por volta das 7 da manhã e pelas 4 da tarde já está de partida. Do lado de cá da janela não tem frio, mas sobram choques de eletricidade estática e pele, unhas e olhos ressecados.

Este brancão que se vê a frente, para os que não conhecem, é um rio (Charles River), congelado e coberto de neve. Do outro lado, a cidade de Cambridge com o M.I.T. a direita. A bela voz de Leila Maria na versão de "Manhã de Carnaval", é um convite a meditação e uma provocação da saudade.

Um último aceno

29/12/2008 - manhã - Passando a porta de casa, virando a direita mal comecei a andar e já estava entrando na empresa. Um dia eu contei a distância: 15 passos. Por anos e anos foram repetidos, em mão dupla. Pela contramão do fluxo dos pacientes circulei pela casa, olhei a parede de pedra, as fotos tiradas pelos amigos, a foto do Rio Antigo, as minhas fotos das casas de Floripa. Me orgulho da idéia daquela exposição permanente sobre casario brasileiro. Olhei também as caras da equipe, algumas poucas ainda bem conhecidas, . No momento que ia sair pela porta da 3a. casa, um paciente (cliente! Ô vício de médico!), me acenou com a cabeça. Nossa, quantas vezes isto aconteceu. Quantas vezes fui cumprimentado por gente que não sabia ao certo quem se tratava. Tantas vezes me perguntavam na rua até que horas poderiam fazer exames, me falavam que a obra tinha ficado linda, que aquilo era um marco no bairro, que eu tinha assinado os seus laudos, agradeciam porque tinha dado um resultado melhor do Colesterol, apesar das estripulias que tinham feito, enfim, aquele último aceno era pra que lembrasse que até aquele momento, para muitos ainda era um ser híbrido, meio pessoa física, meio jurídica. Ou para lembrar uma cara colega de trabalho, citando o que hoje se transformara aquela outrora PJ, eu era uma "marca ambulante". Para muitos este vínculo ainda há de se manter, para outros, possivelmente ainda me manterei como uma referência. Mas sigo esta nova vida, efetivamente como uma PF.

Covil do Bello - isto é nome que se dê pra qualquer coisa??

A idéia veio de um grande amigo, meio irmão. Sujeito de cultura e inteligência brilhantes, sempre foi também um implicante profissional e repetidor incansável de piadas. A sugestão de nome não era de hoje, mas de mais de 25 anos. Também não poderia ser para um blog, naturalmente, mas para um restaurante, de comida italiana é claro. Entre um programa infrutífero e outro, muita gasolina torrada ( às vezes diesel também, e no mesmo motor !!!), naquilo que chamávamos de "nonsense", as propostas de apelidos se sucediam, entre uma e outra gargalhada histriônica. Se fosse o caso citar, a lista seria grande, mas falo de um deles: Bello. A etiologia deste, é menos simpática do que pode parecer, mas o que se há de fazer? Covil quer dizer toca, buraco, caverna. O sonho do restaurante veio mais tarde, mas com outro nome. O blog surge agora, neste momento de virada.

P.S.: Covil me lembra uma música muito divertida de Chico Buarque. Faz parte da trilha da Ópera do Malandro que nos anos 70 aconteceu no teatro e mais tarde no cinema. A não ser pela associação do nome, não há relação maior com o blog. Mas é divertido ouvir a música e rever um trecho do filme.