Um dia, há muitos anos atrás, observei que no hospital em que trabalho, havia um buraco redondo numa parede próxima ao hall de entrada, pouco acima da porta do elevador. Esta foi provavelmente uma observação rara, digna de um adepto/adicto de construções centenárias. Muitos outros jamais devem ter reparado naquilo, e menos ainda tentado entender a razão da sua existência.
quarta-feira, 21 de março de 2012
O buraco do Prof. Monteiro
Um dia, há muitos anos atrás, observei que no hospital em que trabalho, havia um buraco redondo numa parede próxima ao hall de entrada, pouco acima da porta do elevador. Esta foi provavelmente uma observação rara, digna de um adepto/adicto de construções centenárias. Muitos outros jamais devem ter reparado naquilo, e menos ainda tentado entender a razão da sua existência.
domingo, 13 de março de 2011
Tratado Geral dos Chatos (capítulo 1/ ∞)
Os tempos de globalização, aquecimento global, etc., vieram acompanhados dos Eco-chatos, dos Eno-chatos, dos chatos Wally (com o dom da onipresença), etc... Há de se dar destaque nos dias de hoje, aos chatos internéticos. Eles merecem uma categoria especial com várias subdivisões: 1- Os Orkuchatos, que nos acham depois de tantos anos em que buscamos paz e esquecimento, os que nos mostram fotos da festa de 1 ano da neta, do batizado do filho do concunhado do porteiro, etc...2- Facebookochatos: condição em fervilhante emergência, daqueles que nos convidam para joguinhos de fazenda, nos incluem em enquetes estranhas, etc. 3- Os Emailchatos hecatômbicos que nos aterrorizam quanto a seringas em cadeiras de cinema, aditivos alimentares que nos envenenaram em todas as refeições que fizemos até hoje, sobre virus de computadores que arruinarão as nossas vidas, etc... 4- Emailchatos poliânicos, que nos enviam emails com correntes, falando da beleza e pureza da vida, etc... Outras formas se sucederão, certamente, muito além da nossa existência. Não acredito na possibilidade de extinção da espécie, e acredito que até mesmo resistiriam a tragédias nucleares, tal qual as baratas, estes seres inúteis e nojentos que também nos cercam. Quem sabe esta dobradinha pós apocalipse não venha a ser obra do criador, reunindo ao final dos tempos, aqueles seres que de fato tanto se mereceram, e que portanto, talvez se bastem.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Brisas de Cabo Frio
Há poucas semanas recebi uma mensagem eletrônica cerimoniosa, querendo saber eu como estava, manifestando uma preocupação e a vontade de me ver, para se ter certeza de que estaria bem. A remetente era alguém bem próximo, que não precisaria de modo algum ter tanta cautela naquela abordagem. Mais do que vizinha de meus avós, foi grande amiga de minha mãe desde a mais tenra infância, é madrinha de batismo de um dos meus irmãos, é mãe (de fato) de um amigo da vida inteira, a quem seria capaz de dever meus rins (1), é advogada brilhante a quem recorremos desde a primeira até a última hora, para as mais diversas questões, jurídicas ou nem tanto, etc... Enfim, alguém que se não tem proximidade sanguínea, está de fato muito mais próxima do que isso, está dentro dos nossos corações.
A casa de meus avós ficava numa pacata rua da Tijuca. Nos anos 70, por conta das obras de construção do Metrô, esta rua se tornou uma via sem saída, portanto ainda mais tranqüila, e acessível por meio de uma extendida alça viária que passava pelo Maracanã (estádio, bairro e boa parte do rio), pelo malfadado quartel da PE (2), pela antiga Fábrica da Cervejaria Brahma (3), pelo posto de gasolina do “Sheik” (4), pela “Praça dos Bodinhos”(5), retornando quase lá na Muda (6). Assim como acontece hoje, naquela época, uma obra do Metrô contemplava todos os transtornos possíveis, e se arrastava por vários anos e governos.
Ainda que tenha vivido 46 dos meus 48 anos em Botafogo (e não Humaitá!) (7), me considero no mínimo em 50 %, um Tijucano, dado a longa e rica convivência que tive com este tradicional bairro da cidade.
A casa de meus avós datava dos anos 40, em estilo art déco, revestida em “pó-de-pedra” (8), fora construída pela empresa Pires e Santos (muito renomada, segundo a minha avó dizia)”. Ela era limítrofe com a do meu amigo e ficava em nível ligeiramente acima, algo como uns 80 centímetros. O muro que dividia as casas era feito de um material que lembrava os pré-moldados tão usados hoje em dia, e por alguma razão tinha uma tendência a apresentar trincas e orifícios, que para meu desgosto eram rotineiramente remendados, tão logo eram descobertos pela minha avó. Era pelos mesmos que era viabilizado o intercâmbio de brinquedos entre os amigos, como por exemplo, os carrinhos em miniatura “Match-Box” (me recuso a fazer o link com o fabricante atual, porque nada do que produzem me remete aos meus queridos brinquedos). Também a baixa altura e espessura dos muros viabilizava uma conversa rotineira, em breves palavras ou nem tanto, num método simples e eficiente, em tempos em que o telefone era um objeto único na casa, confeccionado em um estranho material de cor preta, e que ficava literalmente “amarrado” a um canto único da residência, tradicionalmente sobre uma pequena mesa, e em frente a uma cadeira destinada a quem fosse se utilizar do equipamento, o que transformava o ato de telefonar, em uma atividade quase solene: “vou ali dar um telefonema! (ou uma telefonema, como diziam alguns)”.
Sendo assim, embalada pelas conversas por sobre os muros, em gesto curiosamente idêntico ao da geração anterior (9), pelo intercâmbio das novidades, seguiu-se uma amizade que já dura uma vida inteira, renovada sempre, por gestos ora distintos, mas tão fortes e sinceros como sempre foram.
Atualmente não há sinais do Metrô por perto da rua de meus avós, mas sabemos que ali por baixo encontra-se o denominado “Rabicho da Tijuca”, onde imagino que os trens manobrem e/ou se recolhem ao fim do dia. Há tempos não vou por lá, mas acho que muito mudou. Não existem mais as “Lojas Brasileiras (Lobrás)”, a Hobby Sport (nem o Maeda ou a pista de autorama), a “Rotação Discos” (não seria esta modesta loja que resistiria as tendências atuais), as “Casas da Banha”, etc...
Para encerrar tantas boas e emocionadas reminiscências, explico o motivo do título deste texto. Nada tem a ver com a cidade da Região dos Lagos. Também não é uma alusão a amenas experiências climáticas tão raras no Rio de outrora (ainda mais na Tijuca) e tanto mais nos dias de hoje. Tem sim um pouco a ver com a situação geográfica onde passei tantos bons momentos da minha vida. Mas mais do que tudo, me refiro a uma marca indelével que carrego na alma, talvez perceptível a um grupo restrito de pessoas que vivenciaram parte ou muito do mesmo que vivi. Voltando ao encontro solicitado pela grande amiga da família, mencionado no primeiro parágrafo, quando manifestada a preocupação sobre o meu estado atual, eu repeti com emoção, mas com a devida ênfase: “Fique tranqüila, sinto um dor lancinante, todas as horas e dias dos últimos vários meses, mas da mesma forma, sinto a todo tempo, a “Brisa da Visconde de Cabo Frio”! Ela, mais do que eu, sabe o quanto isto representa. Do almoço, seguimos o curso dos nossos dias, emocionados, certamente, mas na devida paz.
Referências:
Peço desculpas pela quantidade de referências numeradas. De repente me esqueci que não estava escrevendo um artigo científico, mas um descompromissado texto do meu blog pessoal, mas já era tarde.
(1) Para declarar a gratidão que devo ao amigo, pela devotada amizade, destacando particularmente um conjunto de gestos feitos no ano de 2002, repito sempre que seria capaz de lhe doar um rim, caso por ventura precisasse do mesmo algum dia. E ainda, sem precisar de incentivo alcoólico, seria capaz de avançar na promessa de disponibilizar-lhe o segundo órgão, o que naturalmente me levaria a lançar mão de recursos tecnológicos, para poder seguir nesta lida. Devo a ele também, um pedido de desculpas, ainda que em nome de outra pessoa e sem procuração constituída, por constrangimentos absolutamente descabidos.
(2) Quartel da Polícia do Exército: local integrante da genérica denominação de “Porões da Ditadura”, associado a barbaridades como por exemplo o Atentado do Riocentro, durante o Show 1º. De Maio, em 1981.
(3) Onde hoje funciona o Hipermercado Extra;
(4) Famoso personagem do bairro que usava um turbante e vendia doces como cocadas, pés-de-moleque ou doces de leite. Não sei seria um mito, mas também lhe atribuíam atuação na venda de produtos de outros segmentos, causadores de outras formas de deleite;
(5) Praça Xavier de Brito, onde até hoje é possível se alugar charretes puxadas por bodes (no máximo para crianças leves, por favor!);
(6) Muda: sub-bairro da Tijuca, tem este nome porque ali eram trocados os animais que puxavam os bondes, para dali seguirem para o Alto da Boa Vista;
(7) Humaitá: por razões pra mim pouco justificáveis, se atribui um maior “glamour” a este bairro, sem tradição alguma, praticamente restrito a uma larga e ensurdecedora avenida (o que inclui a guarnição do Corpo de Bombeiros, não se esqueçam!). Por conta disso, alguns puxam pra lá, a borda do bairro,para se sentirem incluídos no mesmo, o que acho que lhes acrescentam quase nada, além de uma maior alíquota de IPTU, naturalmente.
(8) http://www.artdecobrasil.com/materias/caderno_ela.pdf
(9) “Dutinho, posso ir aí?”; “Lelena, quer vir aqui?”; “Tavinho, tô indo aí, tá?;
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Trocando em miúdos (e graúdos)
Atiraste uma pedra - Doces Bárbaros
Aos que já sentiram ou ainda sentem as "Dores Bárbaras" causadas por uma "pedra no peito":
Em meados dos anos 70, os "Doces Bárbaros" eram um grupo formado ocasionalmente, mas que reunia ninguém menos do que Caetano, Gal, Bethânia e Gil, todos artistas já consagrados naquela época. Eu tinha uns 14 anos quando fui ao Canecão (vide ingresso original), neste que foi o primeiro show da minha vida. Considero que tive uma estréia e tanto!
A música emociona quer pela letra de Herivelto Martins, quer pelas interpretações dos quatro. Gal com um timbre perfeito, Gil e Caetano intérpretes tão bons quanto são compositores. Bethânia é um caso a parte, que com a voz vibrante, derruba qualquer promessa de resistência a choros, inevitáveis, ontem e hoje.
">
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
The Exterminators
Os caras aqui são chegados a uns nomes pomposos. Há poucos dias, tarde da noite, durante a minha ralação habitual (estudo, contas, bancos, emails, fotos, blog, etc...), tive a sensação de ter uma companhia dentro do meu quarto. A calefação faz uns ruídos aleatórios de vez em quando e às vezes quando estou com o pensamento longo, me assusto. Mas aquele ruído parecia acontecer num ritmo diferente, mais constante. Não parecia ser do aquecimento. Mais um pouco, tive a certeza. Levantei da cadeira e arranquei o saco de lixo da boca do roedor. Já tinha visto uma armadilha largada em um canto escondido aqui do quarto. Assim, armei a mesma, com um pedaço de queijo (uma lasca de Grana - quite sofisticated, no?), para tentar pegar o meu roomate. Em seguida mandei um email para a nossa gerente. Dentre tantas regras da casa, uma delas é que visitas têm horas determinadas para entrar e sair, e devem ser registradas em uma folha na entrada. Não quis perder a oportunidade da piada e da ironia. Relatei na mensagem que tinha descumprido a regra da casa e tinha recebido uma visita à noite. Não tinha registrado a mesma, dado ao inusitado do evento, e que seu nome era incerto.
No dia seguinte encontrei a nossa gerente, com grande cara de mal estar e perplexidade (vai dizer que nunca soube da presença destas visitas por aqui!?). Me disse que poderia ficar tranquilo, que os "The Exterminators" (sim o termo usado foi este mesmo) já estavam a caminho. Mais tarde me confirmou a vinda dos mesmos e que haviam sido colocados mais "Detectors". Sim este é o nome da ratoeira de madeira vagabunda que eles usam, similares as nossas, com a diferença que tem um queijo "fake" (claro!), de plástico. Assim como as nossas, não pegam nada, além de helicopteros (??? vide parágrafo abaixo) e os dedos desajeitados de quem monta as mesmas.
Até agora tivemos dois resultados práticos. A armadilha que montei estava desarmada dois dias depois e sem o queijo (não sei se foi a faxineira que tirou porque achou estranho este método natural que tinha tentado, ou se o bichano foi mais esperto). Uma outra preparada pelos Exterminators, foi desarmada pelo pouso afoito do meu Helicoptero de controle remoto (este é o meu mais novo brinquedinho para desestressar), que teve a sua asa decepada.
Passada uma semana não tivemos mais visitas dos The Exterminators, e convivo com Detectors espalhados por todos os cantos. Acho que o visitante foi pra outras bandas. Ainda bem, porque a julgar pela dedicação dos profissionais que cuidam do caso, se alguma armadilha por ventura vier a funcionar, sou eu que vou ter que tomar as providências.
E assim, a vida segue, com um helicóptero a menos...
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Os últimos acenos
Fiz um giro pelo Administrativo e pelas outras áreas. Abri tantas portas, acho que todas elas, olhei pras pessoas, acenos de cá e de lá. Fui dar uma olhada na técnica. Entre outras, eu queria ver a lourinha trabalhando. Ela é motivo de um grande orgulho: um dia ela era a "office-girl" do hospital que trabalhava, tinha vindo da roça, nem sabia o que queria da vida e hoje após uns empurrõeszinhos e muita garra dela, brilhava por aquele terreiro. Não a encontrei.
O Administrativo fica em um grande salão, asséptico, sem alma e montado com os mais eficientes materiais para reverberação de sons, que nos permitiam ouvir os mais variados ruidos, de interesse restrito aos alheios, dos 4 cantos, catalogar os tons disponíveis dos celulares Nokia, perceber a capacidade de insistência de uma criatura que tenta falar com um mesmo ramal em 12 chamadas consecutivas com 18 toques em cada uma e participar das conversas de todos, em particular das exibicionistas. O resto do andar não era muito diferente em termos de personalidade. Não nutria simpatia por aqueles espaços, mas do contrário, por varios dos seus ocupantes.
No hall da empresa esperei o elevador pra ir embora. Que demora! Que bicho moroso! Fui derrubado pela emoção, uma vez mais, como tantas me que aconteceram nestes últimos meses. Fui resgatado por aquela e mais uma lourinha, que chegavam da rua. Esta segunda, de tempo bem menor de convivência, mas uma referência médica, alguem que gosto muito. Pelos braços delas embarquei no bicho moroso. Que sorte que por estes braços! Delas foram os últimos acenos!
(*) Périplo: viagem em que se retorna ao ponto de origem (Wikipédia)