quarta-feira, 21 de março de 2012

O buraco do Prof. Monteiro


Um dia, há muitos anos atrás, observei que no hospital em que trabalho, havia um buraco redondo numa parede próxima ao hall de entrada, pouco acima da porta do elevador. Esta foi provavelmente uma observação rara, digna de um adepto/adicto de construções centenárias. Muitos outros jamais devem ter reparado naquilo, e menos ainda tentado entender a razão da sua existência.
O hospital, que funciona numa antiga região da cidade, tem um belíssimo e antigo prédio, que fica a frente dos demais que compõem o conjunto. Ele já foi cenário de locação de novela, do foco de tantas lentes (incluindo as minhas), as cores de iluminação de sua fachada homenageiam datas especiais, etc...
Mas, voltando ao buraco, e estimulando a minha verve futucadora, na época da minha descoberta, fui atrás da explicação para o mesmo. Soube então, que em certa ocasião, datada de uns 60-70 anos atrás, um professor, médico, cirurgião e claustrofóbico (1), ao se ver aprisionado no elevador enguiçado e certamente sem acesso a recursos de resolução mais imediatos (Ex.: equipe de manutenção 7x24, para aqueles tipos de "modernidades"), ordenou que fosse feito o rombo na parede no prédio, viabilizando assim a sua escapada. Provavelmente pela importância do acidentado, e pelo risco da necessidade de novas intervenções, o buraco foi mantido aberto, e assim permanece até os dias de hoje. Sem poder "obter a linha do tempo" (ou mesmo desejá-la - permita-me FB, please!) dos acontecimentos que se sucederam, resta-me exercitar a criatividade para dar seguimento nesta história do buraco. E assim, a minha fantasia construiu uma versão, que creio não seja absolutamente delirante, e que descrevo a seguir:

Uma vez superado o trauma de sua clausura, certamente efêmera, e passado alguns poucos anos, o Prof. Monteiro se aposentara lá por meados dos anos 60. Substituiu-o, o Prof. X, um dos seus assessores imediatos, cidadão muito ligado ao lado social da medicina, idealista e politizado. Os anos cinzas da ditadura militar levaram-no a cassação profissional pelo regime político vigente, na época muito atento aos ambientes universitários. E assim, o Prof. "Y", o sucedeu. Nos anos 70, com a inauguração da Cidade Universitária, "Y" foi substituído por "Z", uma vez que o primeiro se recusara a se mudar para lugar tão longínquo (2). Em 1994, "Z" morreu num assalto na recém inaugurada Linha Vermelha, num episódio bastante lamentado na época. "W", o primeiro da fila sucessória, assumiu chefia da cátedra, e lá se encontra até os dias de hoje. Numa prova de resistência, perseverança e sorte, este "Joseph Climbert" da área médica (3), sobreviveu as idas e vindas diárias pela perigosa via expressa, a implosão da "perna seca" do bloco hospitalar, e (muito) recentemente, aos escândalos de corrupção nos processo licitatórios da UFRJ. Caminhando na linha do tempo, "W" que há muito milita nas profundezas da baía de Guanabara, possivelmente desconhece quem antecedeu a "X", provavelmente nunca observou o buraco no Hospital Moncorvo Filho (ainda que este contemple uma unidade de atendimento da Universidade em que trabalha), e certamente não tem noção do que ocasionou o referido rombo. Não apenas "W", mas certamente quase todos os que ainda frequentam aquela casa, nunca repararam ou imaginaram uma explicação para aquele curioso e inútil adorno.

Depois de tantas reminiscências e exercício imaginativo, chego então, ao objetivo maior destas linhas. Minhas vivências corporativas mais recentes, e um tanto mais as experiências atuais, me induzem a tentar trazer a valor presente, e seguindo a "linha do tempo" (andando para trás ou para frente, isto não importa), os possíveis valores simbólicos do "Buraco do Prof. Monteiro". Acho que não podemos perder estas oportunidades que esta vida nos dá! E assim, entendo que o orifício possa ter algumas interpretações metafóricas. Numa primeira delas, eu o correlacionaria a um símbolo de poder, onde significaria, o espaço hierárquico que cada um que se considere elegível a "Prof. Monteiro", com suas inerentes, justas ou imaginadas prerrogativas, poderia, deveria, ou acharia que merecia ter. O contracheque, e seus "vultosos" adicionais, seriam um respaldo delirante para estas expectativas. Não atendidos quaisquer dos requisitos anteriores, restaria ao candidato, reações mais rudimentares, como a arrogância, a histeria, ou mesmo o grito tribal, ciente que como diz a cultura popular, no grito muito se leva... Tentando trazer um exemplo prático para esta primeira possibilidade, imagino que um servente, terceirizado ou não, de empresa fraudulenta ou não (se é que esta última existe!), um outro subalterno qualquer, ou alguém com menor titulação (real ou não), jamais teria o direito de pleitear tamanha intervenção predial, e deveria naturalmente, aguardar o tempo necessário para o reparo do elevador, sem direito maior a reclamações.

Uma segunda possivel interpretação para o "buraco", seria a geográfica, espacial. Nesta esfera, imaginamos as demandas por espaços exclusivos (salas de trabalho ou de reunião exclusivas, banheiros, etc...), reformas dos espaços, aquisição de mobiliários (mesas, sofás, etc...), contratação de serviçais, e assim por diante. Não se deve jamais considerar neste caso, futilidades como a finitude de recursos, taxas de ociosidade, produtividade, conforto do cliente (objeto maior da nossa existência), ou os valores dos espaços em uma preciosa área do Rio de Janeiro, etc...

É possível que sem precisar puxar muito pela cabeça, continuemos nas interpretações, as mais diversas... Mas é certo, que o custo (direto ou indireto) de qualquer uma destas tende a ser devastador, sorvendo assim, recursos e impostos, e atingindo de forma inevitável e dolorosa os pacientes... E, se assim for, o buraco é mais embaixo...






(1) professor + médico + cirurgião + claustrofóbico = SOCORRO !!

(2) Este gesto de rebeldia, me remonta a 1960, quando tantos fugiram da migração do funcionalismo para o Planalto Central. Mas cá entre nós, desbravar um lugar inóspito, ainda que com o nome de "Fundão", não poderia ser considerado pior do que ir morar em Brasília!!!

(3) Joseph Climbert: impagável personagem do grupo "Os melhores do mundo". Se quiser conhecer a saga e determinação deste impagável personagem, clique em:

domingo, 13 de março de 2011

Tratado Geral dos Chatos (capítulo 1/ ∞)


Na década de 60, Guilherme Figueiredo, irmão do "simpático" presidente que tão tarde partiu nossa história, escreveu o livro "Tratado Geral do Chatos". Era uma tentativa de classificação desta praga que nos cerca e persegue por toda a vida e cuja sua presença implacável é quase tão inevitável como as leis da física (1). Eu anseio que a companhia da mesma se interrompa na chegada ao Éden (aos merecedores desta oportunidade), mas que se mantenha implacavelmente aos direcionados ao Purgatório, e que por isso mesmo, merecem mais esta punição. Voltando ao autor, ele falava do chato bêbado, do galanteador, do que faz pegadinhas, do chato Catlítico, do Vivissectólogo, do Tartufoclocos, dos Ofertantes, dos Postulantes, dos Catequéticos, Pirotécnicos, Faisões, etc., e por aí se segue neste ensaio de definições. Quando menciono o termo "tentativa de classificação", é porque este ser nunca será plenamente compreendido, classificado ou tolerado pela humanidade. Mais uma vez retornando a Figueiredo, ainda que reconheça a sua diferença cultural e intelectual, em relação a seu irmão ( o que cá pra nós, não chegava a ser nenhum graaande diferencial !), nunca alimentei simpatia pelo mesmo. E não posso deixar de me alinhar ao meu pai, por conta de um descabido e injusto litígio entre as partes, ainda que há décadas atrás, lembrando da brilhante defesa feita por uma grande amiga, ainda estudante na época, e hoje brilhante advogada.

Mais de 20 anos depois do lançamento do "Tratado", quando estava na faculdade (por coincidência a mesma que Figueiredo era reitor), aprendi que chato era o nome popular dado ao Pthirus pubis, agente etiológico da ftiríase ou pediculose pubiana. Para facilitar a compreensão de todos, digo que é o que na linguagem popular se chama de piolho. Só que neste caso particular, a espécie que tem predileção pelos cabelos localizados nos "países baixos" (apelando ao coloquial novamente!). Agora vai entender um bicho que gosta de ficar grudado a vida inteira nos nossos fios de cabelo, e mais ainda tente compreender a preferência por pelos mais abafados e mais odorizados? Não sei quem nasceu primeiro, se foi o ovo ou a galinha, se o bicho tem a alcunha de chato porque incomoda muito ou se o chato é assim chamado por lembrar o incomodo causado pelo parasita. Ou seja, o chato original seria o bicho que raramente (na prática médica não cheguei a tratar ou diagnosticar nenhum caso) afeta os humanos, ou o espécime "humano" (as vezes nem tanto) que nos circunda em 360 graus, nos 360 dias do ano? Eu apostaria na 2a. hipótese, até por uma questão de justiça, no confronto entre aquele que só conheci nos livros, contra os demais, onipresentes, ao longo de toda a nossa existência. Pode estar aí a primeira tentativa de definição deste ser em questão. Aliás, para não perder o gancho, lembro que "pentelho" é sinônimo de chato, não o bicho parasita, mas o ser que se apresenta insuportável em todo o sempre.

Os tempos de globalização, aquecimento global, etc., vieram acompanhados dos Eco-chatos, dos Eno-chatos, dos chatos Wally (com o dom da onipresença), etc... Há de se dar destaque nos dias de hoje, aos chatos internéticos. Eles merecem uma categoria especial com várias subdivisões: 1- Os Orkuchatos, que nos acham depois de tantos anos em que buscamos paz e esquecimento, os que nos mostram fotos da festa de 1 ano da neta, do batizado do filho do concunhado do porteiro, etc...2- Facebookochatos: condição em fervilhante emergência, daqueles que nos convidam para joguinhos de fazenda, nos incluem em enquetes estranhas, etc. 3- Os Emailchatos hecatômbicos que nos aterrorizam quanto a seringas em cadeiras de cinema, aditivos alimentares que nos envenenaram em todas as refeições que fizemos até hoje, sobre virus de computadores que arruinarão as nossas vidas, etc... 4- Emailchatos poliânicos, que nos enviam emails
com correntes, falando da beleza e pureza da vida, etc... Outras formas se sucederão, certamente, muito além da nossa existência. Não acredito na possibilidade de extinção da espécie, e acredito que até mesmo resistiriam a tragédias nucleares, tal qual as baratas, estes seres inúteis e nojentos que também nos cercam. Quem sabe esta dobradinha pós apocalipse não venha a ser obra do criador, reunindo ao final dos tempos, aqueles seres que de fato tanto se mereceram, e que portanto, talvez se bastem.

Recentemente tive uma experiência emblemática de convivência com um chato +++++/+++++ (2). Isto aconteceu durante um evento anual que proporciono em minha casa, no meio do Carnaval, quando um grande bloco passa em frente a minha porta. O evento é organizado com esmero, no que diz respeito a cardápio, decoração, etc...Mas como pede o período momesco, a temperatura da época, o espírito carioca, a personalidade do anfitrião, etc., o evento é obviamente informal ao ponto de não se ter uma lista de convidados, de ser aberta a penetras de até 4 ou mais gerações (o convidado, do convidado, do convidado, etc...), de ter frequência absolutamente eclética (Ex.: porteiros, atrizes globais, presidenciáveis, músicos/DJs da moda), etc... Ms ainda assim, para endossar tudo o que falamos acima, é possível se receber neste destes, a visita de um verdadeiro "ET", acompanhado, capaz de feitos inacreditáveis. Um cara que traz uma garrafa de ... "Mateus Rosé"... ABERTA(!!!) (3), e uma mãe eco-chata, capaz de, em meio ao furor carnavalesco, dezenas de convidados, e a correria insana do anfitrião, perguntar onde ficava ... o lixo orgânico! Juro que a concomitância da liberdade etílica, com a pergunta cretina e a garrafinha bojuda, me suscitou o desejo de proferir um conhecido impropério, mas felizmente a elegância venceu e o exemplar escapou desta chinelada.

Acho que as lembranças descritas no parágrafo anterior esgotam por hoje a minha vontade de falar sobre o tema, mas mantém a minha convicção da inesgotabilidade do assunto. Até breve !

(1) 1a. Lei de Newton (Corpus omne perseverare in statu suo quiescendi vel movendi uniformiter in directum, nisi quatenus a viribus impressis cogitur statum illum mutare.Corpus omne perseverare in statu suo quiescendi vel movendi uniformiter in directum, nisi quatenus a viribus impressis cogitur statum illum mutare.): Lei da Inércia. Evitar o incômodo de um chato, é tão fácil quanto não derrubar um cafezinho se o ônibus de turismo em que você viaja, der uma mega freada, por conta da barbeiragem (de um chato, naturalmente), feita a sua frente. 2a. Lei de Newton (Mutationem motis proportionalem esse vi motrici impressae, etfieri secundum lineam rectam qua vis illa imprimitur): Princípio Fundamental da Dinâmica. Preciso estudar mais um pouquinho pra entendê-la e correlacioná-la aos chatos. Mas desde já reafirmo a convicção de vínculo absoluto entre as partes. 3a. Lei de Newton (Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem: sine corporum duorum actiones in se mutuo semper esse aequales et in partes contrarias dirigi.): Princípio da Ação e Reação. Aplicando a realidade que estamos abordando, podemos dizer que a força de uma chatisse é igual e de sentido contrário a ira e salivação de ódio desencadeada pela mesma. Outras leis da física podem ter analogia com a força da presença do Chato.

(2) Em laboratórios médicos, se usa habitualmente, em vários tipos de exames, um método semi-quantitativo, classificando em cruzes (+) a quantidade de elementos encontrados em uma amostra analisada, em relação a uma quantidade máxima possível.

(3) Lá pelos anos 70 e 80, bem antes da "abertura do mercado", e antes ainda desta febre de apreciação de vinhos (lembrando que ela trouxe junto os eno-chatos), não haviam opções razoáveis de vinhos neste país, o que nos fazia apreciar inacreditáveis porcarias, compradas em garrafas azuis, de estranho formato, ou de nauseante doçura, ainda que com pomposos nomes, como os de "chateauxs" muito "legítimos", supostamente situados no sul deste pais. Um dos destaques que me lembro da época, era o Mateus Rosé. Com garrafa diferente, gordinha embaixo, importado, e naturalmente caro, era pra se pedir em um restaurante chique, ou pra se fazer bonito na frente de uma menina, num local romântico, como o "Existe um Lugar" (4), ao som do "Terra Molhada"(5). Enfim, um programa brega, da bebida ao áudio, e possivelmente passando pela companhia.

(4) No tempo que o Alto da Boa Vista era frequentável, mas já perto do fim desta época, justiça seja feita, havia um bar no meio da mata, que tinha sempre o mesmo show;

(5) Conhecida banda cover dos Beatles, sempre precedida de um conjunto chamado "Analfa"


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Brisas de Cabo Frio



Há poucas semanas recebi uma mensagem eletrônica cerimoniosa, querendo saber eu como estava, manifestando uma preocupação e a vontade de me ver, para se ter certeza de que estaria bem. A remetente era alguém bem próximo, que não precisaria de modo algum ter tanta cautela naquela abordagem. Mais do que vizinha de meus avós, foi grande amiga de minha mãe desde a mais tenra infância, é madrinha de batismo de um dos meus irmãos, é mãe (de fato) de um amigo da vida inteira, a quem seria capaz de dever meus rins (1), é advogada brilhante a quem recorremos desde a primeira até a última hora, para as mais diversas questões, jurídicas ou nem tanto, etc... Enfim, alguém que se não tem proximidade sanguínea, está de fato muito mais próxima do que isso, está dentro dos nossos corações.

A casa de meus avós ficava numa pacata rua da Tijuca. Nos anos 70, por conta das obras de construção do Metrô, esta rua se tornou uma via sem saída, portanto ainda mais tranqüila, e acessível por meio de uma extendida alça viária que passava pelo Maracanã (estádio, bairro e boa parte do rio), pelo malfadado quartel da PE (2), pela antiga Fábrica da Cervejaria Brahma (3), pelo posto de gasolina do “Sheik” (4), pela “Praça dos Bodinhos”(5), retornando quase lá na Muda (6). Assim como acontece hoje, naquela época, uma obra do Metrô contemplava todos os transtornos possíveis, e se arrastava por vários anos e governos.

Ainda que tenha vivido 46 dos meus 48 anos em Botafogo (e não Humaitá!) (7), me considero no mínimo em 50 %, um Tijucano, dado a longa e rica convivência que tive com este tradicional bairro da cidade.

A casa de meus avós datava dos anos 40, em estilo art déco, revestida em “pó-de-pedra” (8), fora construída pela empresa Pires e Santos (muito renomada, segundo a minha avó dizia)”. Ela era limítrofe com a do meu amigo e ficava em nível ligeiramente acima, algo como uns 80 centímetros. O muro que dividia as casas era feito de um material que lembrava os pré-moldados tão usados hoje em dia, e por alguma razão tinha uma tendência a apresentar trincas e orifícios, que para meu desgosto eram rotineiramente remendados, tão logo eram descobertos pela minha avó. Era pelos mesmos que era viabilizado o intercâmbio de brinquedos entre os amigos, como por exemplo, os carrinhos em miniatura “Match-Box” (me recuso a fazer o link com o fabricante atual, porque nada do que produzem me remete aos meus queridos brinquedos). Também a baixa altura e espessura dos muros viabilizava uma conversa rotineira, em breves palavras ou nem tanto, num método simples e eficiente, em tempos em que o telefone era um objeto único na casa, confeccionado em um estranho material de cor preta, e que ficava literalmente “amarrado” a um canto único da residência, tradicionalmente sobre uma pequena mesa, e em frente a uma cadeira destinada a quem fosse se utilizar do equipamento, o que transformava o ato de telefonar, em uma atividade quase solene: “vou ali dar um telefonema! (ou uma telefonema, como diziam alguns)”.

Sendo assim, embalada pelas conversas por sobre os muros, em gesto curiosamente idêntico ao da geração anterior (9), pelo intercâmbio das novidades, seguiu-se uma amizade que já dura uma vida inteira, renovada sempre, por gestos ora distintos, mas tão fortes e sinceros como sempre foram.

Atualmente não há sinais do Metrô por perto da rua de meus avós, mas sabemos que ali por baixo encontra-se o denominado “Rabicho da Tijuca”, onde imagino que os trens manobrem e/ou se recolhem ao fim do dia. Há tempos não vou por lá, mas acho que muito mudou. Não existem mais as “Lojas Brasileiras (Lobrás)”, a Hobby Sport (nem o Maeda ou a pista de autorama), a “Rotação Discos” (não seria esta modesta loja que resistiria as tendências atuais), as “Casas da Banha”, etc...

Para encerrar tantas boas e emocionadas reminiscências, explico o motivo do título deste texto. Nada tem a ver com a cidade da Região dos Lagos. Também não é uma alusão a amenas experiências climáticas tão raras no Rio de outrora (ainda mais na Tijuca) e tanto mais nos dias de hoje. Tem sim um pouco a ver com a situação geográfica onde passei tantos bons momentos da minha vida. Mas mais do que tudo, me refiro a uma marca indelével que carrego na alma, talvez perceptível a um grupo restrito de pessoas que vivenciaram parte ou muito do mesmo que vivi. Voltando ao encontro solicitado pela grande amiga da família, mencionado no primeiro parágrafo, quando manifestada a preocupação sobre o meu estado atual, eu repeti com emoção, mas com a devida ênfase: “Fique tranqüila, sinto um dor lancinante, todas as horas e dias dos últimos vários meses, mas da mesma forma, sinto a todo tempo, a “Brisa da Visconde de Cabo Frio”! Ela, mais do que eu, sabe o quanto isto representa. Do almoço, seguimos o curso dos nossos dias, emocionados, certamente, mas na devida paz.


Referências:

Peço desculpas pela quantidade de referências numeradas. De repente me esqueci que não estava escrevendo um artigo científico, mas um descompromissado texto do meu blog pessoal, mas já era tarde.


(1) Para declarar a gratidão que devo ao amigo, pela devotada amizade, destacando particularmente um conjunto de gestos feitos no ano de 2002, repito sempre que seria capaz de lhe doar um rim, caso por ventura precisasse do mesmo algum dia. E ainda, sem precisar de incentivo alcoólico, seria capaz de avançar na promessa de disponibilizar-lhe o segundo órgão, o que naturalmente me levaria a lançar mão de recursos tecnológicos, para poder seguir nesta lida. Devo a ele também, um pedido de desculpas, ainda que em nome de outra pessoa e sem procuração constituída, por constrangimentos absolutamente descabidos.

(2) Quartel da Polícia do Exército: local integrante da genérica denominação de “Porões da Ditadura”, associado a barbaridades como por exemplo o Atentado do Riocentro, durante o Show 1º. De Maio, em 1981.

(3) Onde hoje funciona o Hipermercado Extra;

(4) Famoso personagem do bairro que usava um turbante e vendia doces como cocadas, pés-de-moleque ou doces de leite. Não sei seria um mito, mas tam
bém lhe atribuíam atuação na venda de produtos de outros segmentos, causadores de outras formas de deleite;

(5) Praça Xavier de Brito, onde até hoje é possível se alugar charretes puxadas por bodes (no máximo para crianças leves, por favor!);

(6) Muda: sub-bairro da Tijuca, tem este nome porque ali eram trocados os animais que puxavam os bondes, para dali seguirem para o Alto da Boa Vista;

(7) Humaitá: por razões pra mim pouco justificáveis, se atribui um maior “glamour” a este bairro, sem tradição alguma, praticamente restrito a uma larga e ensurdecedora avenida (o que inclui a guarnição do Corpo de Bombeiros, não se esqueçam!). Por conta disso, alguns puxam pra lá, a borda do bairro,para se sentirem incluídos no mesmo, o que acho que lhes acrescentam quase nada, além de uma maior alíquota de IPTU, naturalmente.

(8) http://www.artdecobrasil.com/materias/caderno_ela.pdf

(9) “Dutinho, posso ir aí?”; “Lelena, quer vir aqui?”; “Tavinho, tô indo aí, tá?;

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Trocando em miúdos (e graúdos)

Um dia, sentada ao lado do autor, possivelmente a letra desta música foi dedicada, em pensamento, voz e atos, alguns cruéis, covardes ou silenciosos.


Atiraste uma pedra - Doces Bárbaros


Aos que já sentiram ou ainda sentem as "Dores Bárbaras" causadas por uma "pedra no peito":

Em meados dos anos 70, os "Doces Bárbaros" eram um grupo formado ocasionalmente, mas que reunia ninguém menos do que Caetano, Gal, Bethânia e Gil, todos artistas já consagrados naquela época. Eu tinha uns 14 anos quando fui ao Canecão (vide ingresso original), neste que foi o primeiro show da minha vida. Considero que tive uma estréia e tanto!

A música emociona quer pela letra de Herivelto Martins, quer pelas interpretações dos quatro. Gal com um timbre perfeito, Gil e Caetano intérpretes tão bons quanto são compositores. Bethânia é um caso a parte, que com a voz vibrante, derruba qualquer promessa de resistência a choros, inevitáveis, ontem e hoje.

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

The Exterminators


Os caras aqui são chegados a uns nomes pomposos. Há poucos dias, tarde da noite, durante a minha ralação habitual (estudo, contas, bancos, emails, fotos, blog, etc...), tive a sensação de ter uma companhia dentro do meu quarto. A calefação faz uns ruídos aleatórios de vez em quando e às vezes quando estou com o pensamento longo, me assusto. Mas aquele ruído parecia acontecer num ritmo diferente, mais constante. Não parecia ser do aquecimento. Mais um pouco, tive a certeza. Levantei da cadeira e arranquei o saco de lixo da boca do roedor. Já tinha visto uma armadilha largada em um canto escondido aqui do quarto. Assim, armei a mesma, com um pedaço de queijo (uma lasca de Grana - quite sofisticated, no?), para tentar pegar o meu roomate. Em seguida mandei um email para a nossa gerente. Dentre tantas regras da casa, uma delas é que visitas têm horas determinadas para entrar e sair, e devem ser registradas em uma folha na entrada. Não quis perder a oportunidade da piada e da ironia. Relatei na mensagem que tinha descumprido a regra da casa e tinha recebido uma visita à noite. Não tinha registrado a mesma, dado ao inusitado do evento, e que seu nome era incerto.

No dia seguinte encontrei a nossa gerente, com grande cara de mal estar e perplexidade (vai dizer que nunca soube da presença destas visitas por aqui!?). Me disse que poderia ficar tranquilo, que os "The Exterminators" (sim o termo usado foi este mesmo) já estavam a caminho. Mais tarde me confirmou a vinda dos mesmos e que haviam sido colocados mais "Detectors". Sim este é o nome da ratoeira de madeira vagabunda que eles usam, similares as nossas, com a diferença que tem um queijo "fake" (claro!), de plástico. Assim como as nossas, não pegam nada, além de helicopteros (??? vide parágrafo abaixo) e os dedos desajeitados de quem monta as mesmas.

Até agora tivemos dois resultados práticos. A armadilha que montei estava desarmada dois dias depois e sem o queijo (não sei se foi a faxineira que tirou porque achou estranho este método natural que tinha tentado, ou se o bichano foi mais esperto). Uma outra preparada pelos Exterminators, foi desarmada pelo pouso afoito do meu Helicoptero de controle remoto (este é o meu mais novo brinquedinho para desestressar), que teve a sua asa decepada.

Passada uma semana não tivemos mais visitas dos The Exterminators, e convivo com Detectors espalhados por todos os cantos. Acho que o visitante foi pra outras bandas. Ainda bem, porque a julgar pela dedicação dos profissionais que cuidam do caso, se alguma armadilha por ventura vier a funcionar, sou eu que vou ter que tomar as providências.


E assim, a vida segue, com um helicóptero a menos...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os últimos acenos

30/12/2009 - depois do último aceno, precisava seguir meu périplo(*). Copacabana era onde trabalhava nos últimos anos. Na mesma praça onde um dia meu pai começou uma história, onde de calças curtas era levado por ele ao seu trabalho, onde basicamente eu cometia estripulias, mas também tinha os primeiros contatos com este mundo, eu estava encerrando ali este meu ciclo. Uma grande coincidência, ou como dizia Milton Nascimento e Fernando Brant, "chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também despedida”.

Fiz um giro pelo Administrativo e pelas outras áreas. Abri tantas portas, acho que todas elas, olhei pras pessoas, acenos de cá e de lá. Fui dar uma olhada na técnica. Entre outras, eu queria ver a lourinha trabalhando. Ela é motivo de um grande orgulho: um dia ela era a "office-girl" do hospital que trabalhava, tinha vindo da roça, nem sabia o que queria da vida e hoje após uns empurrõeszinhos e muita garra dela, brilhava por aquele terreiro. Não a encontrei.

O Administrativo fica em um grande salão, asséptico, sem alma e montado com os mais eficientes materiais para reverberação de sons, que nos permitiam ouvir os mais variados ruidos, de interesse restrito aos alheios, dos 4 cantos, catalogar os tons disponíveis dos celulares Nokia, perceber a capacidade de insistência de uma criatura que tenta falar com um mesmo ramal em 12 chamadas consecutivas com 18 toques em cada uma e participar das conversas de todos, em particular das exibicionistas. O resto do andar não era muito diferente em termos de personalidade. Não nutria simpatia por aqueles espaços, mas do contrário, por varios dos seus ocupantes.

No hall da empresa esperei o elevador pra ir embora. Que demora! Que bicho moroso! Fui derrubado pela emoção, uma vez mais, como tantas me que aconteceram nestes últimos meses. Fui resgatado por aquela e mais uma lourinha, que chegavam da rua. Esta segunda, de tempo bem menor de convivência, mas uma referência médica, alguem que gosto muito. Pelos braços delas embarquei no bicho moroso. Que sorte que por estes braços! Delas foram os últimos acenos!



(*) Périplo: viagem em que se retorna ao ponto de origem (Wikipédia)